Continuo a sentir-me vazia. E continuo a dizer-te com toda a certeza que não te amo. Lembras-te quando me perguntaste de que signo era e eu disse-te que era caranguejo e tu me perguntaste se eu andava para trás? Eu respondi-te que andava, quando era necessário. Pois bem, ultimamente tenho andado muito para trás. Não, não ando a reviver os bons momentos que passamos e também não ando a tentar apagar os maus. Como já te disse, não te amo (Sabes aquela teoria que diz que quando dizes uma mentira muitas vezes ela acaba por se tornar verdade? Eu confirmo-ta).
Ando a apanhar os bocadinhos do meu coração que tu rasgaste e espalhaste por aí. Já vai sendo tempo de o colocar no seu devido lugar, perfeitamente reparado. É que quando deixas algo muito tempo exposto às condições atmosféricas, acaba por apodrecer e eu não quero que isso aconteça. Um coração podre não bate com uma intensidade digna de se ouvir. E eu preciso que o meu coração bata. Bata freneticamente e espalhe o sangue que me corre nas veias. Sangue que congelou na imortalidade do meu corpo. Já vai sendo tempo de voltar a viver. E eu preciso de voltar a sentir algo que me mostre que estou viva. Preciso de sentir o sangue aglomerar-se nas minhas faces quando coro de vergonha. Preciso de voltar a sentir o estômago às voltas quando fico nervosa.
Diz-me… até onde é que levaste os pedacinhos do meu coração que tão amavelmente rasgaste com os teus dentes? É que sinto que estou a ficar sem tempo para os procurar. Dói-me as pernas e não posso correr. Estou na falência e não posso pagar as viagens de avião e chamar um táxi está fora de questão. Se calhar vou sentar-me à espera que o vento traga os poucos pedacinhos que ainda não apanhei. (Aposto que um deles está no Egipto. Sempre disseste que querias ir lá!). Ou então vou fazer uma cirurgia plástica ao meu coração. E até já sei quem vai ser o cirurgião. Agora, não importa o meio. Só o fim. Só preciso de voltar a sentir o sangue correr-me nas veias e ter a certeza que permaneço viva.
Preciso de voltar a amar. Alguém que não tu.